por Carolina Pereira Dias Melo e Faro
Desde 1917 que como Terceira acompanho o movimento da Ordem Terceira Secular, alimentando sempre a esperança de que do seu desenvolvimento muito aproveitariam na ordem moral, as famílias onde um dos seus membros, Terceiro ou Terceira, mostrasse em si próprio, as virtudes que ela nos leva a praticar, em cada estado em que Deus nos tem colocado. Mas para que levemos esse exemplo ao meio em que nos encontramos, forçoso é que ao recebermos o Santo Hábito, representado no escapulário, nos lembremos das responsabilidades que esse pequenino quadrado de lã branca nos impõe, e acompanhemos com todo o coração e desejo de conhecermos bem, a espiritualidade da Ordem Terceira, na qual, por graça de Deus, fomos recebidos. Para realizar este ideal de vida cristã, é que os Terceiros são agrupados em Fraternidades, êste carinhoso título já nos dá a idea de que é uma família espiritual que se constitue, tem ela como chefe um religioso dominicano, que pela formação e ensinamentos que nos dá, nos prepara para o apostolado de combate e exemplo. É esta formação dada principalmente nas reuniões mensais, onde além da instrução que recebemos, temos umas horas de convívio que pode contribuir para a nossa união de Irmãs. Era pouco estas horas de mês a mês para estreitar laços de família. Pensou-se então em reuniões semanais, nas quais, além de procuramos em bôas leituras conhecimentos que nos criasse o verdadeiro espírito dominicano, utilizassemos as nossas aptidões femininas, produzindo trabalhos, cujo produto iria prestar auxílio a essa grande obra, o Seminário Dominicano. Realizou-se a primeira destas reuniões a 16 de Novembro de 1924. De princípio afluiram encomendas importantes, e a receita permitiu-nos que em 1927 podessemos contribuir avantajadamente para a montagem do 1º Seminário Dominicano, fundado no Luso, e em 1930 para a edição de um livro de grande valor espiritual. Sem interrupção teem continuado até hoje estas reuniões semanais de trabalhos, não com o mesmo resultado de receita, pela falta de frequência das Terceiras, uma forçaadas a não comparecerem justificadamente, outras, talvez porque ainda não se compenetraram do alcance deste grande apostolado que inlue moralmente no espírito de cada uma de nós, e pode concorrer para a formação de novos Dominicanos. Mas apesar desta redução nos lucros, já pudemos entregar ao nosso novo Director(1) um auxílio para o Seminário. Actualmente tem a Fraternidade Feminina do Porto as seguintes obras; a que acaba de ser mencionada dos trabalhos, a administração da Revista “Rosa Mística”, O Rosário Perpétuo, a Liga Apostólica, uma Biblioteca de Assinatura, com livros na sua maioria de espiritualidade. Terceiras conta 59. Isto não é tanto um relatório, como um esboço do pouco que se tem feito, aspirando a que tôdas meditemos no muito que se pode fazer, em cada uma das obras em princípio. Mas nada, minhas queridas Irmãs, se consegue com o esforço apenas de duas ou três. É preciso que nos unamos no mesmo zêlo apostólico pela nossa Ordem, e não só em união entre a nossa Fraternidade do Pôrto, mas que se comunique, a tôdas as Fraternidades e às Terceiras isoladas. Deus virá a nós e nos dará a força da vida espiritual que O leve onde estejamos, quer na família, quer na sociedade; mostraremos em tôdas as nossas acções, o valor da Ordem T. Secular. Mas não esqueçamos o nosso grande dever, primeiro sejamos almas eucarísticas, depois ponhamos a nossa actividade, salvo os deveres imperiosos de estado, ao dispôr dos nossos Superiores que para realizarem a grande obra da restauração da Ordem Dominicana em Portugal, estão a lutar com as maiores dificuldades, em todo o campo da sua acção, num trabalho esgotante. Disse-nos o nosso Director num prática das reuniões mensais, que punha tôda a sua esperança no auxílio que as Irmãs T. lhe prestariam para a realização dessa grande obra. Pocuremos não iludir essa esperança, trabalhando primeiro, para chamar a nós novas Irmãs; somos tão poucas!… Mas não desanimemos por isso, atendamos sempre mais à qualidade que ao número, cultivando o verdadeiro espírito de piedade que não é acanhado, não é melindroso, não julga mal. Tenhamos a restauração da Ordem Dominicana como se fôsse um grandioso templo, que se está a levantar em Portugal, e tenhamos-nos como as pedras dos seus alicerces, que todos sabemos são desiguais, umas tôscas outras mais alinhadas, mas no conjunto tôdas concorrem igualmente para o mesmo fim, a firmeza do edificio que sustentarão escondidamente para sempre. Exemplifiquemos esta imagem em nós. Temos de ser desiguais na aparência, nos valores, nas classes, mas iguais no trabalho que prestamos em cada logar em que estamos âs ordens do nosso Director. Sigámo-la com humildade e obediência, e então reconheceremos que da desigualdade de posições de cada uma, se estabelecerá a igualdade no todo, que nos dará a harmonia entre a Fraternidade , e a fôrça espiritual para o seu desenvolvimento. Convençámo-nos, e ensinemos às novas, que não se entra para a Ordem T. só com a intenção de se participar nas indulgências e graças espirituais que ela conceda, mas também para se participar no espírito da Ordem dos Pregadores, dos seus sacrifícios, dos seus trabalhos. Para não ficar nos vossos ouvidos, só a minha palavra tão pobre, tão despida de interêsse, citarei uma pequena parte dum capítulo do “Novo Manual dos Irmãos e Irmãs da Terceira Ordem” livro que tôdas deviam possuir. “Se os Terceiros tiverem o espírito de S. Domingos procurarão penentrar na sua vida, e reproduzir o alto ideal que lhes é apresentado. A-pesar da profissão da Ordem Terceira não ser a da vida religiosa, não obstar ao estado nem às obrigações de cada uma, não deixa de nos transmitir a sua santidade. Como muito bem disse o V. P. Cormier (2)”, a Igreja teve um vista fazer desaparecer a barreira colocada entre o mundo e o Claustro, no centro do século abrir novo campo, ao espírito dos três votos que, florescem no Mosteiro, é uma missão gloriosa que interessa directamente o mistério bendito da Redenção. A expressão desta verdade encontra-se no próprio nome da Ordem Terceira. Esta palavra Ordem pode aplicar-se a tôdas as obras que tendem a um fim por meios apropriados. A Santa Sé a emprega de preferência, para as coisas cujo fim e ordenação tem uma importância mais notável. Há Ordem na Hierarquia Angélica e Sacerdotal, há ainda Ordens Religiosas, mas ao lado delas, e ao lado da nossa, há esta associação que a ela se liga, a Penitência e Ordem Terceira de S. Domingos, e em muitas circunstâncias os SS. Pontífices lhe tem dado êste nome e êste título. A intenção destas minhas palavras não é outra que a de comunicar às minhas Irmãs o entusiasmo que sinto pela Ordem T. a que estou ligada há tantos anos, pondo-a sempre como o meu primeiro apostolado, com a esperança como no princípio aqui digo, de concorrer para o seu desenvolvimento. Termino, agradecendo ao nosso Director, os seus…(3)
publicado na revista “Rosa Mística” nº11 (1938), sendo um texto originalmente apresentado no 1º Congresso da Ordem Terceira de São Domingos realizado no Colégio de S. José, Coimbra, dia 4 de Agosto de 1938.
Notas de Gabriel Ferreira da Silva:
(1) Frei Tomás Videira OP, desde 16 de Janeiro; cf. RM nº 8, ano II
(2) Beato Jacinto M. Cormier (França), 76º Mestre Geral da Ordem dos Pregadores (1904-1916)
(3) falta um parágrafo nas fotocópias a que se tiveram acesso
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