Instituto Superior de Estudos Teológicos

INSTITUTO SUPERIOR DE ESTUDOS TEOLÓGICOS (ISET) – 1966-1975

Os desertos, se não matam, favorecem o sonho que alimenta a esperança e dá alento no caminhar, mesmo que seja uma simples miragem o que o horizonte nos aponta. Se a capacidade de sonhar não morrer, as próprias miragens podem funcionar como vislumbre do possível.

A tentativa de preencher o “vazio”, de sair do deserto, fez nascer a ideia do ISET, em 1966.

Não era um projecto da Igreja portuguesa. «A sua concepção surgiu de uma convergência de inquietações de casas de estudo de várias congregações religiosas e de seminários em face das exigências do Vaticano II no tocante à formação eclesiástica perante a pobreza e dispersão de recursos a nível de professores para poder dar resposta a essas exigências». Contava já com a experiência do Studium Dominicano Sedes Sapientiae, que funcionava há anos em Fátima e reunia alunos do Verbo Divino, da Consolata e dos Carmelitas, assim como alguns professores destes últimos. Era um centro de estudos com prestígio, tornando-se como que o esboço do que poderia ser um
grande Instituto de Estudos Eclesiásticos 15.

De facto, no início do ano lectivo 1967-1968, em Lisboa na casa dos Franciscanos, à Luz, foi possível reunir professores e alunos numa experiência inédita, quer em Portugal quer mesmo no campo do ensino eclesiástico.

A tentativa de resposta às questões levantadas sobre O homem no mundo de hoje e O cristão na Igreja de hoje, presidiu à organização das duas cadeiras fundamentais.

O curso do ISET tinha a duração de seis anos subdivididos em três ciclos: «No 1.º ciclo (dois anos – propedêutico), a preocupação dominante recaía sobre o aprofundamento da problemática levantada nas cadeiras acima apontadas; o 2.º ciclo (três anos – geral), procurava organizar uma reflexão sistemática sobre a problemática levantada no propedêutico; 3.º ciclo (um ano – pastoral), estudava as formas práticas de uma acção evangélica coerente. Por outro lado, a reflexão teológica e o estudo das ciências humanas deviam acompanhar-se ao longo de todos os anos»(16).

Esta iniciativa não foi acalentada pelo Cardeal Patriarca, D. Manuel Gonçalves Cerejeira, que nunca abandonara o desejo de criar uma Universidade Católica, embora o tenha identificado, publicamente, com «um milagre», numa altura em que o ISET serviu para, pontualmente, resolver as dificuldades que o Seminário dos Olivais, entretanto,
lhe levantara (17).

Foi encerrado em 1975 «com prejuízos graves para a cultura católica em Portugal enquanto perspectiva teológica marcada pelo carisma da vida religiosa na Igreja deste País»(18), pois a maior parte dos alunos e professores haviam mudado para a Universidade Católica, recentemente criada.

(15) Frei Bento Domingues, 25 Anos de reflexão teológica, ISTA, Lisboa, 1979, p. 4. O Frei Bento foi o único
professor que colaborou na concepção do ISET, que aguentou até ao fim e que viu – como ele próprio diz
– «matar o rapaz», tendo sido uma «experiência das mais fascinantes em que participei. Nada frustante»
(16) Frei Bento Domingues, O.P., Uma experiência no ISET, in ISET, Julho-Outubro 1972, p. 24.
(17) Id., A Religião dos Portugueses, Porto/Lisboa, Figueirinhas, 1988, pp. 82-98.
(18) Ibidem, p. 83.

in: Maria Julieta Mendes Dias, A Teologia Católica em Portugal – de 1910 à actualidade;  Revista Lusófona de Ciências e Religiões, Ano IV, 2005, pág, 274

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